sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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Estou de dieta, por isso desenhei o bolo em vez de arranjar um verdadeiro... Ficou um bocado para o torto, mas não interessa, deve ser saboroso.

[agora tenho de ir mudar a descrição do perfil...]

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

acerca de uma coisa que me contaram


só porque fiz um desenho para ilustrar uma estória há muito escrita, tomem lá

the girl who wanted to know how to ride a bicicle Foi paixão à primeira vista. No primeiro dia em que saiu para passear – “já tens idade para ir à vila nas quartas” – viu-a lá, parada, encostada e vermelha reluzente como o sol ao final da tarde, entre ferros ferrugentos e retorcidos, numa velha oficina de ferro-velho.
Imaginou-se a percorrer meio mundo sentada nela, com o vento a bater na cara e só pensamentos felizes na cabeça. E assim a vida passou a ser um bocadinho mais fácil porque finalmente tinha um sonho bom: a vermelha bicicleta, com uma campainha de metal brilhante que devia ter o triiiim mais bonito do mundo.
Passou a ansiar o dia do passeio, e todas as quartas quando passavam pela velha oficina de ferro-velho, sorria e quase que podia sentir o vento na cara, veloz, e o som da campainha a anunciar que estava ali, que era uma menina como as outras, aquelas que conseguem rir e brincar sempre.

“Anda lá, que estás a fazer aí especada? Nunca vi menina assim, sempre com a cabeça nas nuvens!” “Não é nas nuvens, Irmã, é no sol de fim de tarde naquela bicicleta…” “És tão tonta… Nem sabes andar de bicicleta!” E nessa noite teve sonhos um bocadinho mais tristes, um tudo nada mais reais, e chorou. É que não tinha ninguém que a ensinasse a andar de bicicleta.

Até que numa tarde de quarta-feira, o senhor da velha oficina de ferro-velho reparou nuns olhos maiores que o mundo a espreitar a antiquada bicicleta vermelha, de que ele tanto gostava e que ninguém queria comprar. “Olá menina! É bonita não é?” E os olhos, arredios, assustados, fugiram para ao pé do comboio de meninas, todas de bibes coçados, cinzentos e sem graça, conduzido por duas Irmãs que não costumavam sorrir.
Ele teve pena daquelas meninas que não riam nem brincavam como as outras crianças.
Na semana seguinte, voltou a ver a menina com olhos do tamanho do mundo a espreitar a sua velha oficina. “Queres dar uma volta?” e piscou o olho. Os olhos tomaram conta daquela carita miúda e encheram-se de água. O senhor da velha oficina de ferro-velho ficou realmente atrapalhado e pediu-lhe para parar de chorar. A menina parou, fungou e limpou o nariz à manga coçada do bibe sem graça. “Era o que eu mais queria no mundo, mas nunca me ensinaram a andar de bicicleta”. Foi então a vez dos olhos do senhor ficarem com água “Queres que te ensine?”. Os olhos grandes como o mundo encheram-se então de luz e viraram-se para a Irmã que estava por perto, ela sorriu e assentiu com um gesto. “Meia hora, o tempo de irmos à praça e voltarmos”.
O senhor da velha oficina de ferro-velho finalmente podia ver a única coisa bonita que tinha para vender a ser usada e a menina podia agora pedalar, a sentir o vento a bater na cara, veloz, e podia tocar a campainha com o triiim mais bonito do mundo. Agora podia sentir-se um bocadinho de nada mais parecida com as outras meninas, aquelas que riem e brincam sempre, porque agora sim, tinha alguém que a ensinasse a andar de bicicleta.

Texto originalmente publicado aqui.