Os que se acham fortes chamam-me fraqueza, os românticos chamam-me melancolia, os músicos chamam-me blues, os doutores chamam-me perturbação depressiva major e ela chama-me, pura e simplesmente, tristeza.
Apareço do nada e recuso-me a desaparecer. Quando ela pensa que me fui embora, riu-me na sua cara, assim, de repente, para a deixar assustada. Enrolo-me como um polvo à volta das recordações dela e inundo-lhe o pensamento com tinta escura. Pairo sobre a sua cabeça, negando-lhe luz e calor.Congelo-lhe os movimentos e o tempo passa sem ela se aperceber. Ela não consegue agir, não consegue gostar e, melhor ainda, não consegue sorrir. Faço com que o simples esboçar de um sorriso seja tão doloroso, que ela evita ao máximo fazê-lo. Eu gosto que ela se sinta assim, incapaz de se olhar no espelho, demasiado cansada para pentear o cabelo. Demasiado cheia para comer. E é desta ausência de vida, desta falta de esperança, que eu me alimento. E torno-me cada vez mais forte, mais negra, como uma nuvem carregada de chuva.
Ela chora. Chora para que a nuvem negra se comece a dissipar. Como eu gosto de a ver chorar!
Tenta dormir, minha querida, tenta dormir que eu talvez desapareça... e assim, num sono entorpecido, talvez possas sonhar que eu me fui embora.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
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1 comentário:
já comentei este texto :)
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