sábado, 17 de julho de 2010

os planetas não colidiram

 “não estou apaixonado por ti”.
as lágrimas inundam-lhe os olhos e não a deixam ver. ainda bem, porque ela não quer olhar para ele.
os seus olhos não lhe dizem nada e ela não consegue ler a sua expressão.
a porta bate, os passos meios rápidos, meios lentos a descerem a escada.
a frase repete-se, forma-se e dissipa-se, uma e outra vez, dentro da sua cabeça.
ela tenta respirar e o ar custa a entrar.
chora porque não sabe mais o que fazer.
chora porque sabe que não foi suficiente.
sai, é a vez dela descer as escadas, mas não sabe como o fez. se foi depressa, se foi devagar.
ri-se, porque se lembra melhor dos passos dele do que dos dela.
acende um cigarro. “devia deixar de fumar”. as forças faltam-lhe, como sempre.
o regresso a casa faz-se automaticamente, até porque o caminho é mais do que familiar.
sorri quando passa pela linha do comboio. mas as lágrimas regressam logo a seguir, porque as memórias deixaram de ser boas. e ela não sabe ainda em que gaveta as arrumar.
a noite é lenta e sádica. ela vira e revira a almofada. é difícil dormir em cima das próprias lágrimas.
o cansaço vence-a, finalmente."

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